Desde os tempos mais remotos que o homem acredita em Divindades, Deuses, algo superior a si próprio, seria a crença em tudo o que fosse superior e que naturalmente o ultrapassasse.

E, qualquer problema que assolava um individuo de “tipo esquisito” o levaria a questionar os “porquês”. E os “porquês” dados através do vulgar quotidiano eram e são insuficientes para muitos, mas acima de tudo preocupantes.Houve sempre a procura no esoterismo nas ciências ocultas, no místico.

E, é assim, que no século XVIII, o aparecimento de uma mulher de nome Anne Marie Lenormand, nascida em Alençon, França entre os anos de 1768 e 1772, não se sabe ao certo, provoca uma reviravolta na sociedade da época, com a leitura de cartas e de oráculos a quem os solicitava.

Diz-se que a adivinhação do futuro através das cartas tem origem no povo cigano. Povo nómada na Europa que migrando de local para local espalhou a arte de “prever” o futuro lendo as cartas.

Essa mulher, ainda hoje reconhecida como pioneira na adivinhação, muito respeitada, entra nesta “magia” como representante do saber em astrologia, quiromancia e numerologia.

Surge nesta situação por crescimento próprio em consequência da necessidade de se libertar da miséria e lutar pela vida. Muito cedo ficou órfã de pai, homem ligado ao comércio mas muito respeitado.

Desempenhou variadas tarefas para sobreviver. Radicou-se na cidade de Paris e desenvolveu os seus “dons” intuitivos e de grande sensibilidade.

Lançou-se no mundo das energias da natureza criou o seu próprio baralho de cartas e atribuíram-lhe o título de “vidente”.

Sabia desenvolver ambiente propício à meditação e interiorização. Na sua mesa de trabalho havia sempre velas, flores, talismãs que a tornaram popular e original no mundo da adivinhação. Foi “crescendo” nos seus conhecimentos, nas suas artes, que muito rapidamente ascendeu aos parâmetros das “sociedades” mais importantes de então.

O seu título de “vidente” levou-a aos degraus mais elevados da escada da vida, foi procurada pelos altos poderes e senhores do capital. Eram os negócios, os amores, os estados passionais, as questões que mais lhe colocavam. A sua fama correu todos os sectores da vida social.

Conta-se, que até a mulher de Napoleão Bonaparte e Robespierre a consultaram. A mulher de Napoleão questionou-a sobre as lutas aguerridas do marido. De Robespierre não se conhecem as preocupações.

Os caminhos estavam abertos e Anne Marie evoluía, e a alta burguesia não a largava. Mas a Igreja também fica a conhecer esta “vidente” e como sempre recusa-a. Não quer aceitar o seu método de “prever” o futuro e põe em causa a liberdade da Senhora Lenormand.

É julgada e condenada a cumprir pena de prisão que não chega a concluir. Pedidos dirigidos à Corte pelos burgueses que a consultavam, ilibaram-na de tamanha pena mas é obrigada a indemnizar o estado.

O baralho de Anne Marie envolve segredos e poderes místicos que ainda hoje recordam o seu nome. Esta mulher revolucionou a classe social da época. Ouvi-la, dizia-se, era a palavra de ânimo e de alívio que conduziam para o bem estar e sucesso. Com a sua morte, desapareceu o baralho e com ele tudo o que se conhecia até então.

Mais tarde, cinquenta anos depois, foram reencontrados alguns manuscritos e recuperados.  A sua restauração permitiu o nascimento de dois baralhos.

O baralho com o nome da Srª Lenormand com ilustrações das figuras de então e o baralho Cigano com figuras correspondentes à mesma data. Muito simples, divulgado pelo povo cigano. (Daí o nome que lhe foi atribuído). O desejo das populações em conhecer algo mais do que o seu dia a dia está sempre presente na procura de cada consulente.

Este baralho é constituído por 36 cartas, numeradas ordinal mente com os quatro naipes  tradicionais e os elementos de cada naipe representam:

-copas —– água —– emoção

-ouros —– terra —– matéria

-espadas — fogo —– espírito

-paus —— ar —– razão

Veja numa consulta uma resposta amiga, um alerta e um aviso para os perigos e decisões que terá de tomar.

O baralho cigano permite uma leitura acessível, dinâmica e talvez por isso considerado “simplista” em relação ao Tarot que hoje se desenvolve e é mais conhecido.

A leitura das cartas através da utilização do baralho cigano encanta pela riqueza do ambiente criado à sua volta. A introdução de velas multicores, incensos, frutos, imagens ciganas e mais objectos, facilitam um ritual de crença, esperança e energias que muitas vezes alertam o consulente e o conduzem a uma tranquilidade e serenidade que ele próprio desconhecia em si.